terça-feira, 21 de dezembro de 2010

A última coluna

Eu acho que de que a dianta comprar revistar se depois elas vão ficar jogas pelos cantos ou acabando indo p o lixo! Não estamos mais podendo nos dar o luxo de ficar derrubando milhares de arvores por ano para nossos caprichos!
Mas em fim....hj eu estava relendo algumas revistas antigas (amo esse ar de nostaugia) e no meio de varias revistas de surf eu encontrei uma especial...uma q jah perdi as contas de quantas vezes li e reli! Então decidi dividir com vocês uma matéria que não me canso de ler! Espero que gostem!



   A última coluna                                                        


Me lembro bem da última onda. Meio da Barra mínimo. Tão pequeno que levei o pranchão pra brincar na valinha de direita. Dia lento, com séries cada vez mais demoradas. Depois de uma meia hora sem nada, finalmente subiu uma onda. Botei pilha, meu filho remou comigo e dropamos juntos. Uma delícia pai e filho surfando a mesma onda. Mas o que eu nunca poderia imaginar é que aquela merreca seria a minha última. A nossa última. Não do dia, mas da vida mesmo. O fato é que depois daquela não deu mais nenhuma. Até aí, tudo bem. as vezes o mar cola mesmo. Já tinha visto isso acontecer. Mas o negócio é que no dia seguinte o mar nem balançava, parecia uma piscina. Eestranhão. E assim ficou por uma semana, sem ninguém suspeitar de nada. Mas aí neguinho começou a se comunicar e na austrália também tava flat. E no hawaii. E na africa. Pleno julho, época de Indonésia, e os barcos boiando em Mentawaii. Me lembro de consultar os sites de ondas e no mundo inteiro tava flat. Achei de uma coincidência animal. Até pensei que podia ser um reflexo do aquecimento global, dessas cagadas que a gente insiste em fazer com o planeta. Mas imaginar que nunca mais fosse dar ondas. ah, isso não!

Pensando bem, tava tudo mesmo muito estranho. Uma falta de vento. Um nublado cinza. Uma água do mar morna. Uma ausência total de corrente. Você jogava um côco no mar e ele ficava parado no mesmo lugar. Nunca tinha visto isso. Mas aí os jornais começaram a publicar, e as revistas também, as primeiras conclusões. Cientistas do mundo inteiro reunidos. Não por causa das ondas, lógico. Todo mundo percebia que algo não ia bem no planeta. E as ondas foram afetadas por tabela. Como pudemos ser tão estúpidos? E agora não tem mais jeito. As calotas polares derreteram. O mar esquentou. O nível subiu. As correntes do mar desapareceram, junto com os ventos. E levaram as ondas embora.

Dez anos já se passaram desde aquela última. E o surf, esse esporte que eu tanto amei, não existe mais. A Fluir até que resistiu bem. Tiro o meu chapéu pro pessoal da redação. Editar dez anos de revista só com foto de arquivo e estórias do passado não é pra qualquer um. Nem a surfer nem a surfing resistiram tanto tempo. De especializada só ficou a surfers journal, e mesmo assim porque vive de doacões dos ex-magnatas da surf wear. Surf wear é outra coisa que não existe mais, como todo mundo sabe, e é até por isso que a revista tá fechando. Os anunciantes se mandaram. E os leitores também. Não posso deixar de mencionar a competência com que as ex-marcas do surf migraram pro skate. Esse sim um esporte milionário atualmente. Engraçado foi ver os marrentos do North Shore passando fome, implorando pra galera visitar o Hawaii. Me desculpe o wolf pack mas qual a graça de ficar, de snorkel, visitando as bancadas de Pipe ou Waimea? E tem coisa mais deprimente do que ver aquele monte de turista japonês boiando? Tô fora. Mas não foram só os locais havaianos que se estreparam, eu sei.

Praticamente todos os surfistas profissionais passaram necessidades, e meu coração está com eles. As ondas sumindo, junto foram carreiras inteiras, anos de dedicação. Sunny Garcia e Johnny Boy Gomez viraram motoristas de taxi em Honolulu. Andy Irons parece que trabalha na recepção de um hotel no Kauai. Sem falar em Tom Curren, que simplesmente sumiu de cena e especula-se que more num trailer no Texas. E essa pra mim é uma das maiores injustiças desse novo milênio sem ondas. As marcas desse falecido esporte tinham que criar uma fundação pra ajudar a turma que investiu a vida no surf. Algo nos moldes do retiro dos artistas, só que para ex-surfistas. Na real, praticamente só Kelly Slater e Laird Hamilton se deram bem. Com tantas vitórias nas costas e sendo articulado, Slater virou um dos mais bem pagos palestrantes do planeta. O cara cobra uma fortuna pra falar para empresários do mundo todo sobre foco, sobre vitória, sobre extender seus limites. Acho o máximo o Kelly ter sido surfista, fico orgulhoso. O Laird todo mundo sabe, virou esse ator famoso encarnando o Surfista Prateado, o super herói, já em 6ª temporada na televisão. O resto dos surfistas teve menos sorte, e como nunca estudaram direito, vivem de bico. Triste isso.

Tão triste quanto escrever a última coluna. Queria agradecer a paciência dos poucos leitores que resistiram esse tempo todo. Não foi fácil produzir essas mais de cem colunas desde que o surf morreu. Na verdade foi muitas vezes angustiante. Ainda mais pra mim, homem de um esporte só que me recuso a abraçar jet ski e outras palhaçadas motorizadas. Com o fim da coluna encerro a melhor época da minha vida e passo a viver só de memórias, que agora não divido com mais ninguém. Até porque não tem mais ninguém interessado. Detesto despedidas. Fui.



Revista Fluir Fevereiro/2007                                  
Coluna Outras Ondas por Fred D'orey
Ano 24 nº 2  Edição 256                                

domingo, 5 de dezembro de 2010

Onde estiver ♪


Onde estiver 

Onde estiver espero que esteja feliz
Encontre seu caminho
Guarde o que foi bom, jogue fora o que restou
Tem horas que não dá pra esconder no olhar
Como as coisas mudam e ficam pra trás
O que era bom hoje não faz mais sentido
É, uma hora isso ia acontecer
A vida cobra e a gente tem que crescer
Me pergunto se você pensa em mim como eu penso em você
Onde estiver espero que esteja feliz
Encontre seu caminho
Guarde o que foi bom, jogue fora o que restou
Pois acredito nos meus sonhos
Eu acredito na minha vida
E no meio dessa guerra
Nenhum de nós pode ganhar
Sonhar e não desistir
Cair e ficar de pé
Dar valor depois que passou
É duvidar da sua fé
Eu vejo a vida tem vários caminhos
E entre eles o destino improvisa
Os pequenos detalhes da vida
Resposta esta escondida
Memórias e lembranças
Certezas e dúvidas
Nada parece mudar
E apesar de tudo enquanto o tempo passa
Ainda espero a sua resposta